| O Rio de Janeiro no final do século XIX e começo do XX vivia um momento de intensa transformação. Era o momento de transição entre o velho e patriarcal Império e a nova e "democrática" república. Sendo a capital federal e maior e mais importante cidade do país, no Rio as transformações eram mais visíveis e evidentes. Tudo o que ocorria na capital era difundido por todo o país. Com a abolição da escravidão e a imigração constante de estrangeiros, o Rio teve um grande crescimento demográfico. Grande parte dos escravos libertos rumaram para a cidade onde não encontravam empregos e tinham que viver na miséria do desemprego e do subemprego. Além da pouca oferta de trabalho, havia a concorrência com estrangeiros que levavam vantagem por serem brancos e terem melhor educação A população pobre se amontoavam em cortiços totalmente insalubres onde a cada dia aparecia uma nova epidemia. |
A imigração provocou um grande desequilíbrio de sexos. A quantidade de homens era muito maior que a de mulheres. Este desequilíbrio proporcionou um baixo grau de nupicialidade. Existiam poucas famílias regularizadas e a taxa de nascimentos ilegítimos era alta. Com a República esta quebra de valores era mais evidente, a honestidade e a ética estavam em baixa.
O fato de haver muita gente para poucos empregos fez com que muitos exercessem ocupações mal remuneradas ou não tivesse ocupação fixa. Muitos passaram a fazer trabalhos ilegais. O Rio estava infestado de ladrões, prostitutas, bicheiros, malandros, ambulantes... A maior parte destes atuava e moravam no centro do Rio. O encilhamento, política econômica que procurava facilitar a aplicação em empreendimentos industriais daqueles recursos antes imobilizados em escravos e que ficaram disponíveis após a Abolição. Através do aumento das emissões de moeda, juros baixos, esta política provocou uma grande febre especulativa. A euforia do ganho fácil tomou conta do Rio.
Populares no Largo da Sé. Rio de
Janeiro. Iníco do séc. XX.
As camadas mais pobres da população foram as que mais sofreram. Ocorreu um encarecimento dos produtos importados (praticamente tudo naquela época era importado) graças a queda do câmbio (a desvalorização da moeda com o aumento das emissões) e ao aumento dos impostos sobre a importação. Com o aumento dos produtos importados, o custo de vida também subiu e os salários se desvalorizaram. Os empregos além de mal remunerados a cada dia eram mais escassos por causa da constante imigração. |
Estas camadas mais pobres, mesmo sem espaço político para se manifestarem, mostravam sua insatisfação em pequenas comunidades étnicas, locais ou habitacionais, mais tarde apareceriam as associações operárias e anarquistas.
| Foi através da política de Campos Sales, que a república se tornou oligárquica e as finanças da República foram recuperadas sobrando dinheiro para obras de embelezamento e saneamento do Rio de Janeiro. Os ricos moravam longe do centro instalados em chácaras ou casarões em Botafogo, Catete e Laranjeiras. Mas continuavam realizando seus negócios no Centro sujo, desconfortável e feio, onde ficavam os escritórios e o grande comércio. Rodrigues Alves mudou isso radicalmente. Transformou o prefeito Pereira Passos em ditador e mandou enxotar toda aquela gente pobre do Centro do Rio. |
A cidade se transformou em um modelo europeu de metrópole. Demoliu-se meia cidade colonial para abrir uma avenida belle époque, arrasou-se morros para construir um porto e uma segunda avenida. Em nome da higiene, fez-se guerra aos pobres, afastando-os do centro para longe do cenário de progresso urbano.
Com as obras conseguiu-se diminuir a promiscuidade social em que vivia a população pobre. Esta sem ter para onde ir se apertava mais entre os poucos espaços disponíveis no Centro do Rio ou ia morar em barracos construídos nos morros, sem água, ruas ou qualquer tipo de saneamento.
No final do governo de Rodrigues Alves, o resultado da modernização da república era evidente: uma cidade "civilizada" para os mais ricos, enquanto os pobres viviam com a falta de saneamento e de estrutura urbana.
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